Eu pretendia abrir esta rubrica “datas” na semana passada com o 13 de Janeiro. Mas como fui antecipado pelo Post “politicamente incorrecto” do Abraão Vicente, que, igual a si próprio, atirou para tudo quanto é lado, preferi navegar em águas menos turbulentas do 20 de Janeiro.
Por ocasião de mais um aniversário da morte de Amílcar Cabral, gostaria de discorrer sobre esta figura ímpar da nossa história. Passados 35 anos do seu assassinato, ele continua a merecer a atenção de estudiosos, analistas, dirigentes e intelectuais preocupados em esmiuçar ou aprofundar o já vasto manancial de informações sobre a sua vida e seus feitos. Este post sobre Cabral gira em torno da seguinte questão: O que podemos aprender do exemplo de Cabral nos dias que correm?
Sem vestir farda pré-pronta de militarismo algum, para mim, e penso que para muitos, Cabral é e continuará a ser um exemplo de luta por um ideal de libertação. É bom lembrar que Cabral, quando jovem, pese embora o regime de então, tinha acesso a oportunidades, tanto é que conseguiu - com algum sacrifício é certo – estudar e seguir para Portugal a fim de prosseguir os seus estudos e alcançar uma formação superior. Ele poderia, entretanto, ter permanecido tranquilo no seu canto e usufruído das oportunidades que tinha dentro do regime em vigor naquela época. Mas não. Movido pela sua consciência cívica, desenvolveu uma estratégia de transformação do mundo que o circundava e que, segundo ele e os demais que abraçaram aquela causa, era a mais eficiente e eficaz para a época. O uso da cultura para gerar uma força colectiva grande, sob o signo da unidade nacional, e encarar os sacrifícios da luta armada teve um contributo inestimável para o processo da Independência da Cabo Verde e da Guiné Bissau.
Portanto, numa altura em que parecemos viver uma crise de consciência cívica, é bom sempre lembrar o exemplo dado por Cabral. Se nós, os que têm acesso a mais e melhores oportunidades criadas pelo crescimento económico, fecharmo-nos nos nossos bunkers e mantivermos a nossa apatia cívica ante as desigualdades e exclusões geradas por esse mesmo crescimento, a violência e a sensação de insegurança continuarão a fazer primeiras páginas dos nossos jornais.
1 comentário:
Excelente Djoy.
Tive oportunidade e ouvir ontem o discurso do Presidente da República e mergulhei também numa reflexão sobre a obra de Cabral e da sua continuidade perante a realidade presente.
A minha sensação é que vivemos um processo de desconstrução do mito. A geração de Cabral não tinha opção melhor do que agir em prol de uma vida melhor e com 30 anos mts já lutavam arduamente para construir o nosso presente. Ao contrário a nossa geração, não presente ameaças e reagimos somente quando as coisas nos incomodam directamente. Penso que vivemos numa zona de conforto que nos mantém longe da realidade. Só quando sofremos com a violência urbana, com a poluição das praias que frequentamos com o término de privilégios é que ousamos fazer algo.
Pequenos feitos de Cabral estão esquecidos, mas sei da Escola criada em Conacry, que formou Homens, militantes e guerrilheiros e vejo que esse é o caminho, capacitar formar e apreender sempre, como ele uma vez disse.
Um abraço amigo, boa reflexão.
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