Antes de mais, gostaria de deixar claro que, embora natural de Angola (por isso alguns desagradavelmente apelidam-me de Txitxarinhu), me sinto um cabo-verdiano da ilha de Santiago, mais concretamente da Cidade da Praia, onde está toda a minha vivência, sem abrir mão, no entanto, dos valores passados pelas minhas gentes da ilha do Fogo. Além disso, faço de tudo para me sentir em casa em qualquer das nossas ilhas. É por essas e outras que prefiro não me identificar nem como badio nem como sampadjudo. Mas as pessoas tem-me feito experimentar os dois lados da moeda: no interior de Santiago, e por vezes também na Praia, sou sampadjudo; em São Vicente e Santo Antão, as pessoas, ao me ouvirem falar aquela mistura das variantes de Fogo e de Santiago que dificilmente conseguem discernir, taxam-me de badio. O mais curioso ainda é que, na ilha do Fogo, as pessoas tratam-me por “Rapás di Praia”. E isto não me incomoda, desde que a motivação não seja depreciativa.
À primeira, parece que o conceito de Badio é um dado adquirido, tanto é que o Pedro Moreira, por estar tão certo do que ele fala, nem se dá ao trabalho de explicar a que badio ele se refere : se é o badiu di fora “da” Margarida ou se é outro. Posso estar enganado, mas decerto que não se trata do do Mário Lúcio, que é uma versão mais histórico-filosófica do que outra coisa, bem longe da reprodução de vivências do quotidiano que reflecte o Texto do Pedro Moreira.
No entanto, gostaria de colocar algumas questões:
a) Antes de mais, ser badio é pertencer a alguma ilha de Sotavento e expressar-se em alguma variante sotaventista da Língua Caboverdiana? Quando as pessoas de Barlavento identificam-me como badio, fazem-no porque para eles tanto faz ser do Fogo ou de Santiago?
b) Se não, ser badio seria então simplesmente ser um natural da Ilha de Santiago, mesmo que os pais ( ou algum dos dois) sejam de outra ilha? Ou então, se não for natural, pelo menos ter feito toda a sua formação pessoal e social nessa ilha?
c) Ou ser badio será simplesmente uma questão de atitude, caracterizada por uma assumpção da variante do crioulo e um bater a mão no peito dizendo “ami ê badio”, independentemente do tempo que se tenha estado na ilha de Santiago ou da naturalidade dos pais? Ou para além disso, era ainda preciso haver um reconhecimento da legitimidade por parte dos que se consideram badios, para se adquirir esse estatuto?
Como se vê, há muitas questões à volta desse conceito. Esclarecê-las talvez fosse um importante diapasão para a torre de babel que parece ser a noção de Badio.
10 comentários:
Djoy, essa eu não conhecia: Txitxarinhu?! risosss. Tem piada!
Nem ligas, nem ligas!!!
Djoy tu és mesmo fitisseru rapaz das ilha. Tenho na forja a abordagem deste assunto. Vamos confrontar as ideias. Estás lá.
Temos de ver o que é isso do badiu e do sampadjudo nós é cool, coisa que me dá na tampa...
Estarei de volta com o tema.
Foste claro. Estou para bater a fala contigo por estes dias.
Um blogabraço Kb
Ora aí está um debate que eu gostava de seguir de perto.
Oi Euridice, na verdade, faço de tudo para não dar importancia a isso...
Oi Kaká, quanto à fala, podemos combinar qualquer coisa...
Oi Eileen, podias não só seguir de perto, como também participar...
Ser badiu é atitude!Cada vez menos se resume à variante do crioulo!os badius que o são têm convicção de o ser e não andam prá com meios termos de ser ou não, isto e aquilo!!O badiu tem orgulho da sua terra, ilha e sabe-se tão caboverdiano como qualquer outro caboverdiano de outra ilha! caba go nós crioulo ratchado si é uma marca de identidade!!
DIAAXI NHÔ!! Um bom brazuka diria: "Abraão, você falou e disse".
Um blogabraço.
soré broda mi é de soncence! ka têm problema?
Na soncente nô ka têm nenhum adjectivo , pa designa gente de soncente,(nô ka ta intchi boca pa dze mi é sampadjudo) ou se é ou não se é !
sem fgi de questão, um ta espera que guentis ka ta confundi ser badio ku ser bairrista! é cool ser sempre qualquer coisa,se vale a pena se bô ta credita!
Um questão sera k um gajo(a) de soncente pode ser badio?
Hiena (afiando os dentes, a espera duma facada )
para os mais atentos um tava sô ta lança palha na lume pa oia se coisa ta pega
Oi Djoy,
nessa questão gostei mt de ouvir o Reitor da UNI-CV na apresentação do CD BADYO mas tb na introdução do livro "Bairrismo em Cabo Verde" da Elsa Fontes.
O que ele diz basicamente é que o Badyo era o escravo que fugiu e que foi denegrido por causa da sua condição rebelde. O termo se generalizou para o habitante de santiago já no contexto das brigas pela centralidade do arquipelágo no norte ou no sul. Hj em dia é complicado.
Pessoalmente eu entendo que na generalidade o termo esconde um racismo sedimentado pelo tempo o que dá origem a n exacerbações.
Assim como n te reconhecem no fogo, como descendente directo da ilha, a mim lá disseram-me que eu não podia ser de Santiago e tive que falar de toda a minha ascendência.
Eu sou antes de tudo Caboverdiano, natural de santiago e como tal orgulhosamente badio. Isso não me faz melhor ou pior do que nenhum outro crioulo. Pelo contrario faço parte da riqueza miscigenada das ilhas.
Bali pa puxa assuntu pa riba mesa.
Uaaaau, djoy, bo t'd'parabens, kess tema, m gosta tb de comentario de cada um! Mi eh mucin d'soncente, tipico e orgulhose dess ilha, m ka tava vive nôte ilha, pa nada dess mund! VIVA SONCENTE! Entretanto, ê com grande prazer ke m te panha aviao pa ba visita sotake de outras ilhas, e m te traze ma min so do melhor ke m puder colhê, seja em ke ilha for! A idea ê moda frase de Kaka Barbosa, no pode ser sim orgulhose de nos ilha, ma.. no convida cumpanher a bem visita nos, ou no ba visitas tb! E ser sim mais caboverdeanos ao conhecermos cada kanto de nos terra!
SONCENTE Ê SAB PA CAGA!!!!
Hernani Almeida
Oi Hernani, antis di más nada, nta fika kontenti di teneu li na Djaroz. N-sta di akordu ku bo, Soncenti ê rei di sábi, Tudu bes ki n-passa la n-kurti txeu.
Di facto, Kaká sta koberto di razon: se fosse possível a tudu kaboverdianus konxi kes otus ilhas, nos sentimento de pertença e di identidadi ta saíba mutu más riforçado y parce-n ma kes quizilas badiu-sampadjudu ka ta tinha mutu espaço di reprodusson.
Um abrassu, y parci sempre.
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