Não me lembro de ter ouvido algum(a) candidato(a) dizer que se ganhar a Câmara as comunidades terão uma participação activa na escolha do que é prioridade na lista infindável de acções e projectos que a sua equipa pretende materializar. Penso que a forma como pensamos a política centra-se ainda muito nos resultados (fins) e muito pouco ou quase nada nas estruturas e processos (meios). Por causa disso, corre-se o risco de construir infra-estruturas (os ditos elefantes brancos) ou produzir outros bens ou serviços que não são utilizados ou aproveitados pelas comunidades locais. Enfim, reina ainda um espírito de paternalismo político em que os(as) autarcas são os pais e as comunidades são os filhos de quem deve se cuidar, visão essa que está muito longe da parceria sociedade civil – sociedade política que enforma os princípios da Good Governance.
Para ilustrar as consequências nefastas dessa abordagem vertical (up-bottom) de fazer política, deixo-vos com um exemplo ilustrativo que li algures e que parafraseio: numa aldeia rural de algum canto deste nosso planeta, técnicos da autoridade governamental, num diagnóstico à comunidade feito somente na base de Observação Directa, constataram que as mulheres gastavam duas horas (ir e vir) para conseguir água potável. Com base nisso, e sem consultar ninguém, concluíram que uma das prioridades dessa comunidade era a construção de um poço que permitisse um acesso mais rápido à água, liberando assim tempo para outros afazeres. Passo algum período, foi construído o poço, alvo de inauguração com pompa e circunstância. Seis meses depois, os mesmos técnicos voltaram ao local para avaliar os efeitos e o impacto daquela acção na vida da comunidade e, em particular, na daquelas pobres mulheres. Mas para o espanto daqueles técnicos, o poço estava complemente tomado de pedras. Ao perguntarem quem tinha feito aquilo, ficaram atónitos com a resposta: as mulheres!
Sem compreender o porquê de tal atitude, pois afinal elas eram supostamente as beneficiárias directas dessa acção, os técnicos resolveram reunir com elas e ouvir da sua justiça. Elas contaram que aquelas duas horas para a apanha de água eram uma oportunidade para trocarem impressões entre si, conviverem um pouco, ao mesmo tempo que os homens cuidavam da lavoura. Acontece que com a construção do poço perderam essa oportunidade de conviver entre si e os homens deixaram de cuidar da lavoura, passando essa dura responsabilidade para as mulheres. Perante tal situação, não tinham outra alternativa que não fosse dar cabo daquele poço.
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