quarta-feira, 5 de março de 2008

O Voto Inútil

Assim costuma ser comummente apelidado o voto atribuído a alguma agremiação política ou candidato que, a priori, não apresenta grandes chances de alcançar a vitoria eleitoral. Normalmente isto acontece em relação aos candidatos que não têm suporte partidário forte, mas que se costumam ver-se no meio dessa “briga de cachorro grande”. Nas situações em que há uma luta renhida pelos votos do eleitor entre os candidatos dos partidos mais fortes, uma das estratégias que estes usam é o apelo ao voto útil. É muito comum ouvir “Bu sta bá vota na kel kandidatu indeperdenti la??! Dja bu sabi ma ê ka tem xansi. KA BU STRAGA BU VOTU”

Um acto que deveria ser um exercício de cidadania é transformado em algo instrumental. Na verdade, o voto é um fim em si mesmo, isto é, independentemente do candidato ou da agremiação ganhar ou não, o facto de votar em consciência encerra já em si um valor, o da cidadania. Mas os defensores da política terra-terra, independentemente da cor política, acham que isto é conversa para boi hibernar e que o voto deve ser adjectivado sim, nem que para isso entrem pelo meio verguinhas, cimentos, garrafas de grogue, feijoadas, etc..

No entanto (ainda bem que assim é), este tipo de instrumentalização não é nem de perto nem de longe comparável, por exemplo, ao que deu origem àquela piada italiana de chamar a sigla do Partido Nacional Fascista – o PNF – de “Per Necessità Familiare”, numa clara alusão ao carácter clientelista do voto na Itália dos anos 20.

1 comentário:

Alex disse...

Meu caro

O voto útil sempre existiu, e não me parece que vá desaparecer nunca. Estando, como está, o jogo político viciado à partida, e imperando a 'Lei do mais forte', as eleições tornam-se quase sempre na escolha de um mal menor entre dois possíveis. A Esquerda em França votando em massa em Chirac para que Le Pen não ganhasse as eleições, lembras-te? Isto resulta de um vasto conjunto de problemas (sociais, políticos, culturais, etc, etc,) todos interligados, contagiando-se e contaminando-se a diversos níveis, modos e tempos, para o enfraquecimento ou anulação de um verdadeiro Espaço Público. O voto, como exercício democrático de um direito, deixou de ser a manifestação livre de um dever, para ser um gesto caricatural do sistema, que o fragiliza mais do que o reforça, quando se transforma e resume em mera rotina. As eleições, e o voto, deveriam ser o culminar de processos activos, exigentes, e participados dos cidadãos nos diferentes momentos e registos da sua vida. O que assistimos é a um evaziamento do sistema e dos seus processos, pela burocratização, não sobrando espaços alternativos de interevenção cívica. Este tema lervar-nos-ia longe, analisado à luz deste um mundo tardo-capitalista, globalizado, posmoderno, de identidades e fronteiras em rápida mutação e diluição. Esperemos que outros peguem no tema, e acrescentem valor à tua proposta.
1ab
ZCunha