Entre os dias 2 e 3 de Dezembro de 1994 teve lugar em Brasília (Brasil) o seminário “O Brasil e as Tendências Económicas e Políticas Contemporâneas”, realizado pela Fundação Alexandre Gusmão com apoio do PNUD e do BID, onde estiveram grandes figuras como Manuel Castells, Alain Touraine Francisco Weffort, Eric Hobsbawn e tantos outros. No painel “Novos parâmetros do Pensamento Político”, o Professor Phillippe Schmitter, renomado cientista político norte-americano, ao comentar a exposição feita pelo Professor Alain Touraine, fez uma proposta no mínimo invulgar: estender a cidadania política a todos os cidadãos desde o momento que nascem, ou seja, todas as crianças teriam direito a voto a partir do momento em que estivessem registadas. Obviamente, como não podem fazer escolhas, o seu direito ao voto seria delegado a um dos pais até que a criança alcançasse a idade que legalmente é permitido o exercício do direito de voto. O Professor Schmitter considera que isto teria algumas vantagens positivas, dentre as quais, permitir às gerações futuras a participação em decisões de hoje, mas que terão implicações futuras. Ele considera ainda que os delegados dos votos das crianças (os pais, em princípio) estarão mais sensibilizados para as questões de sustentabilidade de decisões políticas.
Bem, eu fiquei a imaginar o pandemónio que seria, caso essa proposta fosse posta em prática entre nós. A explosão demográfica seria vista pelos nossos políticos como algo positivo, sinal de fecundidade e de vitalidade. E para dar o exemplo, iriam multiplicar as mães di fidju pelos cutelos e ribeiras deste país. Muitos marmanjos seguir-lhes-iam as pegadas, mas o grande problema seria se cada mãe resolvesse reservar a si o direito de ser a delegada dos votos dos filhos. Já estou a ver a pilha de processos a correr nos tribunais para determinar se é o pai ou a mãe quem fica com o direito de votar por cada um dos filhos. Mas um outro problema surgiria quando a criança começasse a falar e a assistir a televisão. Provavelmente, muitas mamãs e papás teriam alguns dissabores quando os filhos começassem a exigir que o seu voto fosse atribuído ao partido oposto ou candidato de outra cor partidária. Imaginem se o filho ou a filha de um(a) candidato(a) resolvesse exigir ao seu pai ou à sua mãe para que votasse no(a) candidato(a) oposto(a).
De qualquer modo, penso que estes problemas não impediriam que o comércio eleitoral fosse um dos sectores mais dinâmicos da nossa economia, com ritmos de crescimento não negligenciáveis.
Convém também frisar uma inovação importante que seria o planeamento familiar eleitoral, ou seja, haveria lugar à gravidez planificada para a criança nascer no período de actualização do recenseamento. Mas a grande novidade ou vantagem desse sistema é que, de certeza, não teríamos mais o problema das crianças não registadas e não haveria mais a necessidade de passar aquela propaganda na RTP Africa …
1 comentário:
aaa
Enviar um comentário