sexta-feira, 16 de maio de 2008

Autárquicas 2008: Pais, Filhos e... Elefantes Brancos

Não me lembro de ter ouvido algum(a) candidato(a) dizer que se ganhar a Câmara as comunidades terão uma participação activa na escolha do que é prioridade na lista infindável de acções e projectos que a sua equipa pretende materializar. Penso que a forma como pensamos a política centra-se ainda muito nos resultados (fins) e muito pouco ou quase nada nas estruturas e processos (meios). Por causa disso, corre-se o risco de construir infra-estruturas (os ditos elefantes brancos) ou produzir outros bens ou serviços que não são utilizados ou aproveitados pelas comunidades locais. Enfim, reina ainda um espírito de paternalismo político em que os(as) autarcas são os pais e as comunidades são os filhos de quem deve se cuidar, visão essa que está muito longe da parceria sociedade civil – sociedade política que enforma os princípios da Good Governance.

Para ilustrar as consequências nefastas dessa abordagem vertical (up-bottom) de fazer política, deixo-vos com um exemplo ilustrativo que li algures e que parafraseio: numa aldeia rural de algum canto deste nosso planeta, técnicos da autoridade governamental, num diagnóstico à comunidade feito somente na base de Observação Directa, constataram que as mulheres gastavam duas horas (ir e vir) para conseguir água potável. Com base nisso, e sem consultar ninguém, concluíram que uma das prioridades dessa comunidade era a construção de um poço que permitisse um acesso mais rápido à água, liberando assim tempo para outros afazeres. Passo algum período, foi construído o poço, alvo de inauguração com pompa e circunstância. Seis meses depois, os mesmos técnicos voltaram ao local para avaliar os efeitos e o impacto daquela acção na vida da comunidade e, em particular, na daquelas pobres mulheres. Mas para o espanto daqueles técnicos, o poço estava complemente tomado de pedras. Ao perguntarem quem tinha feito aquilo, ficaram atónitos com a resposta: as mulheres!

Sem compreender o porquê de tal atitude, pois afinal elas eram supostamente as beneficiárias directas dessa acção, os técnicos resolveram reunir com elas e ouvir da sua justiça. Elas contaram que aquelas duas horas para a apanha de água eram uma oportunidade para trocarem impressões entre si, conviverem um pouco, ao mesmo tempo que os homens cuidavam da lavoura. Acontece que com a construção do poço perderam essa oportunidade de conviver entre si e os homens deixaram de cuidar da lavoura, passando essa dura responsabilidade para as mulheres. Perante tal situação, não tinham outra alternativa que não fosse dar cabo daquele poço.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Curiosidades das Autárquicas 2008: A Rouquidão

Podem escolher que há para todos os gostos: à la Joe Cocker, Rod Stewart, Bruce Springsteen, Bryan Adams ou …Tina Turner. Estas autárquicas têm estado a produzir vozes roucas, independentemente do lugar ou da lista concorrente. Mas como a campanha tem feito estas eleições parecerem mais legislativas e presidenciais antecipadas do que qualquer outra coisa, líderes partidários não ficam de fora desta safra. Há casos em que não nem se chega a saber quem está a (tentar) falar, pois a depender da plataforma (!?!) eleitoral, fica complicado fazer distinções.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Curiosidades das Autárquicas 2008: Apelidos e Nomes

Do ponto de vista dos apelidos, entre os cabeças-de-lista para a Câmara Municipal quem domina são os Veigas: José António Veiga (Santa Catarina – Fogo); Eugénio Veiga (São Filipe – Fogo); José Gomes da Veiga (Ribeira Grande – Santiago) e José Manuel Veiga (Praia – Santiago). E para reforçar a equipa, nada mais justo do que Carlos…Veiga, pois tem-se desdobrado um pouco por todos os municípios a apoiar os seus apoiantes nas Presidenciais de 2011. Ainda em relação a apelidos, é de realçar o embate entre Tavares em Santa Catarina – Santiago.

No tocante a nomes, dominam os Antónios, Joãos e Josés, sendo que na lista destes últimos é mais do que legítimo incluir o José … Maria Neves, pelo tanto que se tem esforçado em apoiar os seus. Quanto a embates entre nomes, a coisa promete ser quente entre os Jorges na ilha do Sal .

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Mais Musica Minha no Djaroz

Depois de um período de interregno, eis que volto com mais música minha para dinamizar o blog. Escolhi três sons: Tom di Café, que é dedicado à minha querida irmã Matilde Dias; Pomba Branka, canção cujo tema é a paz; e por fim, Ta ser diferenti, uma música feita pensando no lema "Investir na Agricultura em Prol da Segurança Alimentar", que foi o lema do Dia Mundial da Alimentação de 2006 (16 de Outubro). A ideia central desta música é que se pudéssemos aproveitar melhor as águas que dispomos, tudo seria diferente em termos de desenvolvimento rural e do país, de uma forma geral.

Espero que gostem. Aviso que as músicas foram gravadas de forma crua, sem qualquer efeito ou montagem. Evidentemente que juntar-se-ão às outras músicas que já estavam aqui do lado direito.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

"Papá, Vota na F- - -"

Entre os dias 2 e 3 de Dezembro de 1994 teve lugar em Brasília (Brasil) o seminário “O Brasil e as Tendências Económicas e Políticas Contemporâneas”, realizado pela Fundação Alexandre Gusmão com apoio do PNUD e do BID, onde estiveram grandes figuras como Manuel Castells, Alain Touraine Francisco Weffort, Eric Hobsbawn e tantos outros. No painel “Novos parâmetros do Pensamento Político”, o Professor Phillippe Schmitter, renomado cientista político norte-americano, ao comentar a exposição feita pelo Professor Alain Touraine, fez uma proposta no mínimo invulgar: estender a cidadania política a todos os cidadãos desde o momento que nascem, ou seja, todas as crianças teriam direito a voto a partir do momento em que estivessem registadas. Obviamente, como não podem fazer escolhas, o seu direito ao voto seria delegado a um dos pais até que a criança alcançasse a idade que legalmente é permitido o exercício do direito de voto. O Professor Schmitter considera que isto teria algumas vantagens positivas, dentre as quais, permitir às gerações futuras a participação em decisões de hoje, mas que terão implicações futuras. Ele considera ainda que os delegados dos votos das crianças (os pais, em princípio) estarão mais sensibilizados para as questões de sustentabilidade de decisões políticas.

Bem, eu fiquei a imaginar o pandemónio que seria, caso essa proposta fosse posta em prática entre nós. A explosão demográfica seria vista pelos nossos políticos como algo positivo, sinal de fecundidade e de vitalidade. E para dar o exemplo, iriam multiplicar as mães di fidju pelos cutelos e ribeiras deste país. Muitos marmanjos seguir-lhes-iam as pegadas, mas o grande problema seria se cada mãe resolvesse reservar a si o direito de ser a delegada dos votos dos filhos. Já estou a ver a pilha de processos a correr nos tribunais para determinar se é o pai ou a mãe quem fica com o direito de votar por cada um dos filhos. Mas um outro problema surgiria quando a criança começasse a falar e a assistir a televisão. Provavelmente, muitas mamãs e papás teriam alguns dissabores quando os filhos começassem a exigir que o seu voto fosse atribuído ao partido oposto ou candidato de outra cor partidária. Imaginem se o filho ou a filha de um(a) candidato(a) resolvesse exigir ao seu pai ou à sua mãe para que votasse no(a) candidato(a) oposto(a).

De qualquer modo, penso que estes problemas não impediriam que o comércio eleitoral fosse um dos sectores mais dinâmicos da nossa economia, com ritmos de crescimento não negligenciáveis.

Convém também frisar uma inovação importante que seria o planeamento familiar eleitoral, ou seja, haveria lugar à gravidez planificada para a criança nascer no período de actualização do recenseamento. Mas a grande novidade ou vantagem desse sistema é que, de certeza, não teríamos mais o problema das crianças não registadas e não haveria mais a necessidade de passar aquela propaganda na RTP Africa …