sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Palmas para o SNPC!!

Antes de mais, pela forma como o reabilitaram o antigo Aeroporto da Praia. Em segundo lugar, pelo empenho na organização do Atelier de Lançamento da Plataforma Nacional de Prevenção de Riscos de Catástrofes (27 e 28 de Novembro).

Por falar neste atelier, particularmente nos trabalhos de grupo, foi muito bom ter a sensação de que nós, simples mortais, estávamos no mesmo patamar que os nossos autarcas que, diga-se de passagem, contrariamente ao que é hábito, não nos brindaram com o ininterrupto entra e sai da sala, de telemóvel colado ao ouvido. Mostraram-se interessados no assunto e participaram, de facto. (Também pudera! Depois do 11 de Setembro, segurança virou tema que mobiliza recursos, e os nosso autarcas, que de bobo não têm nada, sabem disso melhor do que ninguém).

Importa também destacar as apresentações temáticas e o interesse manifestado pelos participantes. Palmas para o Serviço Nacional de Protecção Civil. Valeu!!

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Super Interessante!

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“Há alguns anos, o fotógrafo Peter Menzel decidiu viajar pelo mundo e fotografar 30 famílias de 24 países de todo o mundo. A ideia era fotografar às famílias juntamente com a comida que iriam consumir naquela semana e avaliar o gasto em dólares por cada família nesse período. O livro se chama Hungry Planet (foto) e surpreende pela qualidade da foto e pela diferença entre um país e outro.

Vejam as fotos e distingam os produtos, o número de pessoas de cada famílias e o que consomem... É muito interessante”

(adaptação do texto do Primeiro Slide, em espanhol)

Faça o download do Slideshow (tamanho : 2, 136 mb) contendo as fotos das famílias, a partir deste link

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Cultura Levada Muito a Sério

Curtam os artigos muito interessantes do Projecto Cultura Livre (Brasil). Notem a seriedade com que são tratadas diversas questões ligadas à cultura (propriedade intelectual, industria cultural, etc,etc).

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

O “Outro” Casimiro de Pina

Amado por uns e odiado por outros, Casimiro de Pina é uma figura incontornável do nosso quotidiano mediático. Os seus artigos, normalmente feitos com base em sustentações teóricas muito sofisticadas e cujo conteúdo tem um indesmentível cunho político-partidário, têm suscitado as mais diversas reacções, desde a admiração e o respeito até ao desprezo e à repugnância.

Mas hoje eu quero falar do Casimiro, aliás do Nhonhas, enquanto músico. Trata-se de um guitarrista muito virtuoso, com sólidos conhecimentos de harmonização e de escala e com quem aprendi muito, sobretudo, quando costumávamos fazer sessões de toques aos fins de semana.

Já nos tempos de liceu entendia do assunto. Lembro-me de, numa ocasião, ter passado, juntamente com mais dois colegas, mais de uma hora à espera, impacientemente, que o Nhonhas “pegasse” uma sessão de solo de uma música chamada Não Sou o Único de um grupo português cujo nome agora não me ocorre.

Pois é, aqueles dedos não são bons apenas de pena. Como tratam bem uma guitarra!!

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

COISAS BOAS DA NOSSA TELEVISÃO NACIONAL

Sim, é isso mesmo. Hoje vou falar de coisas boas da nossa televisão.

No “Pulsar Informativo” (coisa boa da nossa RCV) de algumas semanas atrás, o correspondente de São Nicolau, Fernando Santos, falou da satisfação das comunidades de certas zonas da ilha em voltar a ter a oportunidade de ver a TCV.

Essa gente tem razão para regozijar-se: antes de mais, podem ver o Telejornal e as notícias nossas, mesmo que sejam mais da Sociedade Política (membros do governo local e central, dos partidos, do parlamento, ….) do que da sociedade civil.

Em segundo lugar, a TCV vai ser útil em muitos jogos da Champions League não transmitidos pelos outros canais.

Mas há ainda uma terceira razão para falar bem da nossa televisão e que nos lembra o velho ditado envolvendo Maomé e a Montanha: já que a televisão não vai ao povo, este pode arranjar um jeito de chegar à TCV com as suas reclamações, reivindicações, protestos, etc. É claro que para as gentes de São Nicolau isso não pode ocorrer com a mesma frequência que para as de Santiago ou de São Vicente, mas ao menos agora quando tiverem oportunidade de utilizar a TCV para exercerem cidadania podem ver-se a si próprios; podem ter a certeza que tiveram vez e voz; podem, ao menos regozijar-se com o simples facto de aparecerem na televisão, independentemente da sua reclamação ou reinvindicação ter efeito ou não.

OLHA SÓ QUEM FALA!!



Essa é boa!

No último CD/DVD Live dos Ferro Gaita, Beto Dias, um dos convidados desse grupo, ao começar uma das canções na qual participa, disse que a música feita pelos Ferro Gaita é verdadeiramente nossa, contrariamente ao que tem sido feito por muitos artistas nossos que rotulam de cabo-verdiano o que é do Continente Africano e que não tem nada a ver connosco.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Pobreza de Espírito

É unanimidade que a luta contra a pobreza no país passa necessariamente pela mudança da mentalidade assistencialista de uma boa parte da nossa população e a implantação e consolidação de um espírito empreendedor.

Ora, parece ser mais fácil uma vaca sair por aí a voar do que haver essa transformação. No mês passado, precisamente no Dia Internacional da Erradicação da Pobreza (17 de Outubro), num encontro comemorativo da efeméride, um técnico de uma ONG referiu-se à resistência de muitas famílias em ter acesso a micro-crédito por receio de melhorar a sua própria condição e perder assim os apoios institucionais (isto faz lembrar um pouco o medo mais global do país de sair da lista dos PMAs, mas isto são contas de outro rosário). O mesmo técnico, ao citar situações concretas ligadas à ONG à qual pertence, disse: “Txeu bês, nu tem ki lixonxa famílias pa toma micro-crédito”.

Mudar esse espírito vai dar que fazer!

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Proposta (ou será Sonho?): Um Grande Espectáculo por Mês, na Capital do País da Música

Lá fora, Cabo Verde é conhecido, sobretudo, como país da música. Há tempos, num artigo publicado no Jornal A Semana, Baluka Brazão , como tantos outros já o tinham feito no passado recente, lamentava, e com razão, o facto de na capital do país da música haver tão poucos espaços onde se possa escutar música ao vivo.

A meu ver, o que falta é fazer coisas visíveis e com alguma continuidade. Que tal um grande espectáculo de música por mês no Auditório Nacional durante um ano e com um artista ou grupo diferente de cada vez? Imaginem uma parceria público-privado que ponha em pé um projecto impulsionado pelo objectivo de mostrar que, inequivocamente, se está na capital do país da música. Doze vezes por ano, músicos nossos, residentes e na diáspora, subiriam ao palco do Auditório Nacional para mostrar que não se vendeu gato por lebre e que se está, de facto, na capital do país da música.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Mário Lúcio e a Coincidência: Diogo e Cabral


Mário Lúcio Sousa acaba de lançar o seu novo Álbum (Badyo). Confesso que ainda não o ouvi na íntegra e espero poder fazê-lo em breve.

Sábado passado, no “Secção da Música” do Stevie Andrade (Rádio Comercial), este artista chegou a tempo de aguçar o apetite dos ouvintes para a próxima edição do programa, e o Stevie não resistiu a lhe pedir que fizesse referência à coincidência que o artista retrata no seu álbum.

Mário Lúcio disse que observou que a estátua do Diogo Gomes está ao lado da Presidência da República, e com a cara na direcção da Assembleia Nacional, ao passo que a de Amílcar Cabral está lá em baixo no Taiti e com a cara voltada para o Cemitério. Evidentemente que ele tratou de desmistificar esse facto, realçando que, às vezes, devemos brincar um pouco com as coisas sérias da vida.

No entanto, penso que este álbum, chegando no momento de abertura de mais um ano político, que tem a particularidade de ser eleitoral, pode dar o mote para a troca de farpas entre os nossos partidos políticos de maior expressão. Para já, basta pensar um pouco acerca do contexto no qual surgiram as duas estátuas para que se tenha matéria suficiente para a troca de galhardetes que, por sinal , já começou, embora timidamente, com as nossas maiores forças políticas a usar o telejornal da TCV para fazer o balanço da governação local, sendo que aquela argumentação batida só depende do lado que se está, situação ou oposição.

Voltando ao Mar_luz e seu Badyo, depois desta da coincidência, fiquei ainda mais curioso para ouvir a apresentação do álbum no programa do Stieve do próximo sábado e ver até que ponto este nosso artista peculiar está ou não a querer cutucar a(s) onça(s) com vara curta .


sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Proposta: Base de Dados dos Artistas

Fiquei deveras admirado ao ver o empenhado levantamento dos instrumentistas (ou “tocadores”, como queiram) feito pelo Manuel de Jesus Tavares no seu “Aspectos Evolutivos da Música Cabo-Verdiana”. Isso fez-me lembrar também da iniciativa interessante do Djinho Barbosa de elencar os músicos da ilha de Santiago no seu oportuno blog Son di Santiagu. Ideias dessa natureza deveriam ganhar maior abrangência e um carácter institucional.

Talvez fosse interessante o departamento governamental responsável pela Cultura pensar na possibilidade de constituir um banco de dados dos artistas residentes (músicos, pintores, escultores, actores, etc, etc), alimentado com dados pessoais, morada, contactos e curriculum artístico. Não sei se já houve tentativas desse género e quais os seus resultados, mas acredito que seja materializável. Os grandes desafios para a sua criação seriam: a) canalizar recursos orçamentais para a campanha de informação sobre a iniciativa e a sensibilização dos artistas para aderirem, assim como recursos para a montagem e gestão da base de dados b) definir critérios justos e transparentes para selecção dos artistas que devem ser incluídos na base de dados (não seria certamente chegar lá e bater na porta para logo ver-se admitido). Naturalmente que todas as propostas deveriam ser objecto de um debate participativo para garantir a sua legitimidade.

Penso que a base seria útil pelos seguintes motivos: por um lado, facilitaria a acesso aos artistas por parte de promotores de espectáculos, de donos de estabelecimentos de entretenimento, de entidades governamentais e de órgãos da comunicação social. Por outro, contribuiria para um maior intercâmbio entre os artistas, pois seria só ir à instituição que gere a base de dados ter as referências do artistas que se quer contactar, e pronto. Como seria interessante poder ter uma lista mensal dos artistas aniversariantes para que alguns não fiquem despercebidos e possam ser estimulados a participar em programas radiofónicos, televisivos ou então dar entrevistas para jornais!

Provavelmente, alguém questionará se essa iniciativa não deveria partir da Sociedade Civil. Ora, se fosse possível, seria muito mais interessante ainda. No entanto, devemos lembrar que o espírito associativo dos nossos artistas é travado por clivagens de vária ordem. Antes de mais, a própria diversidade de manifestações artísticas funciona como um entrave intra e inter-grupos. Para além disso, o regionalismo ( como, por exemplo, barlavento/sotavento ou meio urbano/ meio rural); as opções político-partidárias; o conflito de gerações e as diferenças sócio-económicas fazem com que os artistas estejam mais propensos à divisão do que à união.

Voltando à base, eu diria que poderia funcionar na lógica de uma maior motivação dos nossos artistas, para rompermos definitivamente com aquele sentimento de que, em termos de cultura, tendemos a valorizar muito mais o produto da criação do que o criador.

Direito de Autor Respeitado

Na passada terça feira fui chamado pela Harmonia para assinar a papelada referente aos direitos de co-autoria da Música Lingua Preto do novo CD do Tcheka, Lonji. Apreciei a forma séria como essa organização e o próprio Tcheka trataram o assunto, pondo fim a uma questão que surgira na sequência de um problema de comunicação.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

A Nova Batalha: Comida versus Biocombustível


Segundo o Relatório do Banco Mundial sobre o Desenvolvimento (2008), dedicado ao papel da Agricultura para o Desenvolvimento, “a quantidade de grãos exigida para abastecer o tanque de um carro utilitário pode alimentar uma pessoa por um ano. A competição entre comida e combustível é real”.
Quem quiser ir mais a fundo nos contornos que este assunto está a tomar a nível mundial, veja o link do download da Visão Geral do documento disponibilizada em português pelo site do Banco Mundial


Relatorio BM 2008 Visão Geral

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Lembranças Musicadas de Uma Praia Rurbana


Achei curioso o facto do Baluka, no Kriolidadi da última edição do Jornal A Semana (imagem ao lado), ter aberto o seu artigo acerca do CD Lonji com uma referência a Língua Preto - cuja letra é da minha autoria, com alguns retoques do Tcheka, contrariamente ao que rezam o CD promocional e alguns artigos de jornal – como sendo uma música que lhe faz recuar ao seu tempo de infância em Assomada. A dada altura, Baluka escreve: “Durante toda a sua meninez, Tcheka viveu longe dos centros urbanos do seu próprio país, Cabo Verde, que nem sequer existiam na realidade.”.

A parte que eu destaquei nessa frase é muito interessante, pois praticamente responde à seguinte questão: como poderia alguém como eu, que viveu toda a sua infância e adolescência numa zona suburbana da Praia (Terra Branca, no caso) pudesse ter a legitimidade de fazer alguém viajar, por meio de uma letra de música, a vivências rurais do interior da Ilha de Santiago?

Sem entrar em muitos detalhes, o processo do povoamento de zonas como Terra Branca Baixo ou Tira Chapéu, para não citar outras, está intimamente ligado, sobretudo, ao êxodo rural e à imigração de gente de outras ilhas. Consequentemente, acabou por se verificar, em certa medida, uma reprodução das relações sociais do campo traduzida em coisas que hoje fazem parte do nosso imaginário, como por exemplo, as cabras e porcos criados nos terraços, que me inspiraram, aliás, a fazer uma música chamada Karru Sekretariadu, em alusão a toda aquela correria desesperada para pôr dentro de casa os animais soltos, antes que fossem apanhados pelo carro do Secretariado Administrativo da Praia (correspondente à Câmara Municipal nos dias de hoje), o que era, de resto, uma tentativa clara de romper com hábitos e costumes que não se coadunavam com a vida no meio urbano.

Outro aspecto marcante daquela vivência eram as relações de vizinhança, do Djunta mon, enfim, do chamado Capital Social Positivo. Lembro-me, por exemplo, da festa de Betom que, de tempos em tempos, juntava amigos, vizinhos, familiares para a colocação de cobertura da casa com massa de brita, areia e cimento, e na qual não faltava os indispensáveis feijão pedra e grogu. Como devem calcular, acabei inevitavelmente por fazer uma música a respeito de título Festa Betom.

Enfim, isto tudo para dizer que eu não precisava ir ao interior da ilha de Santiago para que pudesse estar legitimado ou “autorizado” a reproduzir algo do imaginário colectivo como a estória das fiticeras. Isto fazia parte do quotidiano do meu mundo suburbano, peri-urbano ou rurbano! Reconheço, no entanto, que eu não teria a mesma legitimidade em retratar vivências que envolvem “poial”, “cutelo” ou trabalho da terra (“monda”, “korta”,...), por uma razão muito simples: são elementos ligados ao meio rural enquanto espaço físico.

Por outras palavras, , nós que crescemos na Praia suburbana dos anos 80 não estamos necessariamente condenados a bater perna até ao interior para fazer rakodja de modo a criar música terra terra. É só irmos à memória (re)buscar vivências daqueles tempos e recuperar muita coisa interessante à espera da sua vez de sair cá para fora e fazer muita gente reviver o seu passado e suas raízes, seja do meio rural seja do meio suburbano.

Bem, e agora para finalizar, aproveito a ocasião para colocar na integra a letra da Música Língua Preto, pois o Tcheka abdicou de partes da letra na versão que adaptou para o CD, para que possamos fazer juntos essa viagem à estória sobre Nha Bedja Fiticera:

Língua Preto
(Djoy Amado)

(estória da mulher preocupada em proteger o seu filho, desde a gestação à maioridade, das garras da sua vizinha alegadamente feiticeira)

Lingua preto,
Rabo kumpridu ki ta cendi
Konchedu tambe pa boka fédi
Ta bira gatu pretu di madrugada

Fladu fla
M’ê kumi Pedrinho di Nha Amélia
Ê pôl ku korpu só kocerinha
Ê n-gabal kabelu ti npintxu sai



Ontonti ê pidi-m águ
n-da’l y n-borka’l kaneka,
ê fika ta tuntunhi
ê kaba pa pidi pa n-dexa’l bai

Nha fidju ê ka ta kumi
Nha fidju ê ka ta nguli
Dja n-toma pruvidência,
n-ka ta nsoda nau:



fumador d’arruda tres bes pa simana
ádju prindadu tras di porta
baboza na lata la kintal
sal spadjadu riba kaza

n-deta kuel séti dia kantu ki ê nasci
n-pôl guarda maradu na cintura
n-ta salta’l tres bez di vez em kuandu
n-po’l ta prendi fazi fisga kanhota

sábado, 10 de novembro de 2007

Isto é que é Notícia!

Basta dizer que, de 6 em 6 segundos, uma criança morre de desnutrição do mundo para considerar que isto é que é realmente uma boa notícia. Trata-se do Plumpy Nut, uma pasta açucarada de amendoim enriquecida com vitaminas e minerais que tem estado a salvar a vida de muitas crianças em várias partes do mundo, ao ponto de muitos considerarem que está-se perante uma revolução na luta contra a desnutrição infantil. Além disso, esse produto tem sido também usado para melhorar a condição sanitária e nutricional de doentes do HIV e da SIDA.

Em baixo, alguns links de artigos acerca dessa boa notícia.

MOÇAMBIQUE: Plumpy´Nut, o remédio de docinho contra a desnutrição

Plumpy (blog vantagem comparativa)

A "Arquipelaguização" do Funaná

“Da música circunscrita aos meios rurais, o Funaná transformou-se numa das maiores conquistas no domínio da música, no Pós-Independência de Cabo Verde. (…)”

Carlos Gonçalves, Kab Verd Band, pag 71.

“Antes confinado unicamente ao mundo rural, o funaná é o género musical cabo-verdiano que maior evolução alcançou nos últimos vinte anos.”

Manuel de Jesus Tavares, Aspectos Evolutivos da Música Cabo-Verdiana, pag. 34.




O Funaná praializou-se nos anos 80 e, nos últimos anos, tem estado a arquipelaguizar-se e a diasporizar-se. Há vários exemplos dessa expansão do fenómeno funaná, que curiosamente não só a ver com gentes de Barlavento, ou da ilha do Fogo ou da Brava a escutarem, por exemplo, os Ferro Gaita. Está também ligada ao facto de artistas que não são da ilha de Santiago (ou badius, se preferirem) passarem a fazer criações baseadas nesse género musical.

O facto que ultimamente mais me chamou atenção tem a ver com a Música Pedra do CD da Gabriela Mendes. Até onde eu sei, esta música é um funaná lento (se não for, que alguém me explique porquê), cuja letra é do Vasco Martins, portanto, um integrante da mainstream musical de São Vicente, os arranjos foram feitos pelo Hernâni, outro nome sonante da mesma ilha, com interpretação vocal da Gabriela Mendes, que não tenho a certeza que seja da mesma ilha, mas que certamente é também de Barlavento.

Como podem reparar, trata-se de um funaná lento eminentemente mindelense, desde a letra, passando pelos arranjos e chegando à interpretação vocal. Para mim, isto é sinal que estamos aos poucos a diminuir os espaços preenchidos pelas rixas, querelas ou quezilas, que não nos levam a parte alguma, e a substitui-los por comunhão, criatividade e trabalho.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Mix Cultura

Quando o Kizó resolveu metralhar o festival baía das gatas no seu cvmultimerdia.blogspot.com, entre mortos e feridos, o Grupo santantonense Mix Cultura saiu ileso. Na sequência deste artigo letal, Paulino Dias também teceu no seu algumas considerações sobre o jovem Titita, um dos integrantes da banda.

Isto fez-me recuar a Julho de 2003, altura em que estive em Ribeira Grande numa missão de serviço. Tive nessa ocasião a oportunidade de conhecer alguns elementos da banda, mais concretamente, o Titita que me surpreendeu pelo interesse pelas músicas do Orlando Pantera a ponto de não me dar sossego enquanto não lhe passasse a letra da música Lapido na Bó. Não tive a oportunidade de saber se o Titita chegou a aprender a cantar a complicada letra daquela música, ao som do seu virtuoso toque de cavaquinho, mas a julgar pela sua perseverança e talento, acredito que te-lo-á conseguido.

Só ouvi ainda uma musica daquele álbum (vi, por acaso, a capa no Quintal da Música) e notei naquela faixa algum espírito inovador e de criatividade daqueles rapazes que penso terem sido dos poucos que se deleitaram com a passagem triunfal do Orlando Pantera pelo Festival Sete Sois Sete Luas.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

O Mercado do Sexo: A Fome Junta-se à Vontade de Comer

A Fome - Moça novinha (14….15….16…), roliça, com tudo em cima, cuja mãe não tem exemplo para lhe dar e nem moral para impor-lhe limites e cujo pai não se sabe ao certo quem é. A embalagem do seu produto é curta e transparente.


A Vontade de Comer – Homem de meia ou mais idade (55, 56, 57,…69….), reformado, cujas responsabilidades são “apenas” mandar a mesada para os filhos que estão a estudar fora e pagar a casa ao banco.

Oferece os seguintes condições:

1. Paga a renda do apartamento;

2. Financia a formação com várias possibilidades de escolhas (ISE, Piaget, UniCV, ISECMAR, etc);

3. Não dá mais do que uma ou duas por semana;

4. Banca fins de semana fora da cidade ou fora da ilha, a gosta da freguesa.


Como costuma dizer o Heavy H, ki tal?

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

O Novo CD do Tcheka: Gostei, e Pronto!

As pessoas que me conhecem, certamente, estariam à espera que, uma hora ou outra, eu falasse do Novo Álbum do Tchekops. Ora bem, aí está.

Pensei em ouvir o novo álbum do Tcheka através de um processo de meditação. Após tê-lo feito dessa forma, posso dizer que gostei, e pronto!

Este CD, como se costuma dizer no bom criolo santiaguense, “Da-m ku stangu”.

Ouvi o Lonji sem pensar.

Sem pensar que se tratava do terceiro álbum do meu amigo kadjeta. Sem comparar este ao Argui e ao Nu Monda. Sem pensar que lá há uma composição minha (passe a publicidade).

Ouvi o Lonji sem pensar.

Sem pensar se o Tcheka é ou não é da geração Pantera; sem julgar Lenine e seus convidados; sem remoer-me com o alegado marionetismo da Harmonia.

Simplesmente ouvi o CD, sem pensar

Sem pensar que o Oboé ou a Trompete estavam a mais e o baixo a menos. Sem pensar em ouvir o que lá deveria estar e não está.

Limitei-me a ouvir o Lonji.

Sem pensar nas análises cirúrgicas acerca deste álbum feitas pelo Djinho e pelo Kizó . Sem a preocupação de ser a favor desta ou daquela opinião acerca deste trabalho.

O que posso dizer é que, no final da meditação, gostei do que me entrou pelos ouvidos, só a sentir, sem pensar em nada.

Gostei, e Pronto!

sábado, 3 de novembro de 2007

CONTRASTE

O Verde e o Ferro Velho


sexta-feira, 2 de novembro de 2007

ORLANDO PANTERA

Se estivesse vivo, teria completado ontem a bonita idade de 40 anos.

Pois é, nasceu no Dia de Todos os Santos e morreu com a idade de Cristo, numa Quinta Feira, que era o seu dia no Quintal da Música. Coisas curiosas ligadas a este artista super especial.

O DESABAFO DO KIZÓ

O desabafo de Kizó sobre o Novo trabalho do Tcheka e a trajectória desse artista é muito interessante porque é muito mais abrangente e mais profundo. É muito mais do que uma crítica sobre o trabalho do Tcheka e sua carreira musical.

Penso que o pano de fundo da indignação e da angústia desse virtuoso baixista tem a ver com uma coisa que tenho constatado na nossa realidade e que não se refere só à música. Há dias, num encontro organizado pelo Ministério da Agricultura e a ONG americana ACDI VOCA sobre a valorização de hortaliças no nosso país, uma agricultora desabafou: “nós (agricultores) nu ta xinti ma nós ê ka ninguém”. Ela deixou claro que eles não se sentem valorizados e respeitados.

Pois bem, penso que isto também se aplica à música, isto é, a tendência nossa é para valorizar mais o produto musical do que os artistas que o concebem, sobretudo os que estão no plano da execução (ou acompanhamento, como queiram).


Vou contar-vos uma situação vivida na primeira pessoa para ilustrar um pouco o que quero dizer. Certa vez, fui convidado a integrar uma banda improvisada para animar um evento. Chegando ao local, ao avistar alguns amigos que faziam parte do convívio, não pude deixar de trocar dois dedos de conversa com eles. Eis que uns dos organizadores do evento, ao saber que nós (eu e os restantes integrantes da banda) estávamos lá na qualidade de banda musical, foi taxativo: “Vocês não devem se misturar a nós. O vosso lugar é ali. Vão para lá e aguardem o momento de actuar.”
Nós só ficámos por insistência dos amigos que por lá encontrámos e da pessoa que nos convidou, que, com o intuito de mudar a nossa imagem perante os restantes convidados e o responsável pela cena desagradável, achou por bem dizer aos presentes que todos nós do grupo éramos licenciados!

Tudo isto para reiterar que o que Kizó fez não foi mais do que abrir os nossos olhos para a falta de respeito para com os nossos músicos, de uma forma geral. Não é, mais uma vez, só oTcheka que está em causa e nem só o seu álbum e sua trajectória. É todo o processo em volta da produção musical (CD, DVDs, espectáculos, etc) e a corrida desenfreada por dividendos que dela resultam, com consequências nefastas para a qualidade.

É pena que a nossa visão crítica muito curta e circunstancial nos atraiçoa e leva-nos a pensar que pessoas como o Kizó ou o Paulino Vieira são rebeldes sem causa, têm um dor de cotovelo, etc, etc. É pena...