sábado, 10 de novembro de 2007

A "Arquipelaguização" do Funaná

“Da música circunscrita aos meios rurais, o Funaná transformou-se numa das maiores conquistas no domínio da música, no Pós-Independência de Cabo Verde. (…)”

Carlos Gonçalves, Kab Verd Band, pag 71.

“Antes confinado unicamente ao mundo rural, o funaná é o género musical cabo-verdiano que maior evolução alcançou nos últimos vinte anos.”

Manuel de Jesus Tavares, Aspectos Evolutivos da Música Cabo-Verdiana, pag. 34.




O Funaná praializou-se nos anos 80 e, nos últimos anos, tem estado a arquipelaguizar-se e a diasporizar-se. Há vários exemplos dessa expansão do fenómeno funaná, que curiosamente não só a ver com gentes de Barlavento, ou da ilha do Fogo ou da Brava a escutarem, por exemplo, os Ferro Gaita. Está também ligada ao facto de artistas que não são da ilha de Santiago (ou badius, se preferirem) passarem a fazer criações baseadas nesse género musical.

O facto que ultimamente mais me chamou atenção tem a ver com a Música Pedra do CD da Gabriela Mendes. Até onde eu sei, esta música é um funaná lento (se não for, que alguém me explique porquê), cuja letra é do Vasco Martins, portanto, um integrante da mainstream musical de São Vicente, os arranjos foram feitos pelo Hernâni, outro nome sonante da mesma ilha, com interpretação vocal da Gabriela Mendes, que não tenho a certeza que seja da mesma ilha, mas que certamente é também de Barlavento.

Como podem reparar, trata-se de um funaná lento eminentemente mindelense, desde a letra, passando pelos arranjos e chegando à interpretação vocal. Para mim, isto é sinal que estamos aos poucos a diminuir os espaços preenchidos pelas rixas, querelas ou quezilas, que não nos levam a parte alguma, e a substitui-los por comunhão, criatividade e trabalho.

Sem comentários: