O desabafo de Kizó sobre o Novo trabalho do Tcheka e a trajectória desse artista é muito interessante porque é muito mais abrangente e mais profundo. É muito mais do que uma crítica sobre o trabalho do Tcheka e sua carreira musical.
Penso que o pano de fundo da indignação e da angústia desse virtuoso baixista tem a ver com uma coisa que tenho constatado na nossa realidade e que não se refere só à música. Há dias, num encontro organizado pelo Ministério da Agricultura e a ONG americana ACDI VOCA sobre a valorização de hortaliças no nosso país, uma agricultora desabafou: “nós (agricultores) nu ta xinti ma nós ê ka ninguém”. Ela deixou claro que eles não se sentem valorizados e respeitados.
Pois bem, penso que isto também se aplica à música, isto é, a tendência nossa é para valorizar mais o produto musical do que os artistas que o concebem, sobretudo os que estão no plano da execução (ou acompanhamento, como queiram).
Vou contar-vos uma situação vivida na primeira pessoa para ilustrar um pouco o que quero dizer. Certa vez, fui convidado a integrar uma banda improvisada para animar um evento. Chegando ao local, ao avistar alguns amigos que faziam parte do convívio, não pude deixar de trocar dois dedos de conversa com eles. Eis que uns dos organizadores do evento, ao saber que nós (eu e os restantes integrantes da banda) estávamos lá na qualidade de banda musical, foi taxativo: “Vocês não devem se misturar a nós. O vosso lugar é ali. Vão para lá e aguardem o momento de actuar.”
Nós só ficámos por insistência dos amigos que por lá encontrámos e da pessoa que nos convidou, que, com o intuito de mudar a nossa imagem perante os restantes convidados e o responsável pela cena desagradável, achou por bem dizer aos presentes que todos nós do grupo éramos licenciados!
Tudo isto para reiterar que o que Kizó fez não foi mais do que abrir os nossos olhos para a falta de respeito para com os nossos músicos, de uma forma geral. Não é, mais uma vez, só oTcheka que está em causa e nem só o seu álbum e sua trajectória. É todo o processo em volta da produção musical (CD, DVDs, espectáculos, etc) e a corrida desenfreada por dividendos que dela resultam, com consequências nefastas para a qualidade.
É pena que a nossa visão crítica muito curta e circunstancial nos atraiçoa e leva-nos a pensar que pessoas como o Kizó ou o Paulino Vieira são rebeldes sem causa, têm um dor de cotovelo, etc, etc. É pena...
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1 comentário:
Finalmente uma leitura optimista do post do Kisó!
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