quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

O Futuro da Música Feita pelos Cabo-Verdianos

Em 2008, uma rubrica que pretendo incluir na lista de labels do Djaroz é futurologia. Trata-se de um formato de tratamento dos temas que tentará provocar debates em relação ao que, daqui a alguns anos, teremos como sociedade, como cultura e como política.

Como não podia deixar de ser, o pontapé-de-saída é com a nossa música, ou melhor, a música feita por nós, pois não se trata somente de falar do futuro das nossos géneros musicais, mas sim das músicas que são feitas por cabo-verdianos, de uma forma global.

A minha reflexão resultou em 7 pontos:

1. A Lógica do Áudio-Visual - no futuro, não bastará somente ter somente talento musical. Ter uma cara linda ou um corpo escultural dará um grande jeito. A abertura de mais canais de televisão motivarão uma maior produção de videoclips que virão os seus custos reduzidos com os avanços tecnológicos.

2. A Reinvenção do Passado – Ao longos dos últimos anos, temos criado muitas canções. No futuro, os nossos arranjadores, com base nos seus conhecimentos mais aprofundados da harmonização e de composição, darão um rosto diferente aos nossos grandes sucessos. Provavelmente, poder-se-á ouvir uma gaita numa morna ou mais violinos introduzidos no funaná. (a versão Tito Paris do febri funaná de Codé di Dona é um sinal da viragem dos tempos).

3. Fusion & World Music Ltda – para o desagradado dos tradicionalistas conservadores, a nossa música para exportação vai ser isso mesmo: gente nossa misturada com gente de outras paragens para misturar estilos e cantar em crioulo, português, francês, inglês…..

4. Personalização de Estilos – no futuro, os músicos irão adaptar-se progressivamente à grande dificuldade de se unirem e vão se esforçar para, ao mesmo tempo, serem cantores, autores (fazem a letra das suas canções), compositores (criam melodias para as suas próprias letras), multi-instrumentistas (conseguem tocar vários instrumentos) e também produtores musicais (comandarão todo o arranjo da produção da sua própria música), com condições de arranjar músicas que dificilmente serão encaixados em algum estilo ou género convencionais. Haverá outros capazes até de serem produtores executivos e engenheiros de som do seu próprio CD!

5. A Música enquanto reflexo da Desigualdade Sócio-Económica – a linguagem da música electro-acustica será cada vez menos acessível à compreensão por parte da grande massa, em virtude da complexificação da harmonização e da estilização da linguagem na feitura das letras. A grande vantagem de tudo isto é que povão sentir-se-á desmotivado a piratear os CDs feitos nesse formato. A nossa classe mais abastada estará disposta a pagar o privilégio (ou o luxo) de assistir grandes espectáculos com estes tipos de artistas que, na sua maior parte, estarão mais fora do que dentro do país.

À grande massa restará a música electrónica que será a rainha absoluta dos táxis, hiaces, barbearias, salões de beleza, rádios, discotecas, comícios, festivais, etc.

6. Quota de Estilos Clássicos – haverá sempre essa preocupação de não deixar morrer os nossos géneros mais convencionais, havendo flutuações: um tempo é o batuco que reacende a chama, noutro é a morna, noutro a coladeira, o funaná, e assim por diante. Uma das medidas será o incentivo dado pelo Ministério da Cultura para quem incluir no seu CD canções feitas em versões clássicas desses géneros. Outra iniciativa deste mesmo Ministério será dar mais incentivos a rádios comerciais que passem, por exemplo, mornas durante certas horas... do dia!

7. Música na UNICV – Chegará o dia em que os Telejornais das várias televisões nacionais, públicas e privadas, mostrarão os recém formados em música da nossa Universidade a receber o seu diploma.

Se esse futuro é risonho ou não, cada um que tire as suas próprias conclusões.

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