quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Tudo em Casa

Duas coisas motivaram-me a fazer este post: em primeiro lugar, a curiosidade dos álbuns do Zeca e do Zézé di Nha Reinalda (Na Caminhu e Dokumentu, respectivamente) – tios – e do Vadú (Dixi Rubera) – sobrinho- terem sido lançados um atrás do outro, prova mais do que suficiente da vitalidade da veia artística desta família. Em segundo lugar, o facto destes álbuns, até onde eu sei, não terem sido alvo de apreciação na nossa blogosfera.

Na CaminhoZeca di Nha Reinalda

Já não era sem tempo! Isto é o que me apetece dizer sobre este trabalho do Zeca, pois este colosso da música nacional, que esteve recentemente entre a vida e a morte, brinda-nos com um álbum mais maduro, não virado somente para o puro entretenimento, como é caso dos seus anteriores trabalhos a solo. Por outras palavras, ele largou o mundo da vertente electrónica e voltou ao do electro-acústico, reunindo músicas com forma e conteúdo, do próprio e de outros compositores, a saber, Tey Barbosa, Katchás, Ney Fernandes, Zekinha Magra, Djinho Barbosa, Tony Rasta e Codé di Dona. O que me chamou particular atenção foi o número bastante significativo de Versões lentas do Funaná, o que a meu ver contribui para mudar um pouco aquela ideia de associar este género musical à dança ou ao puro entretenimento, ou se quiserem, à pura barulhada.

DokumentuZézé di Nha Reinalda

Quem bem me conhece, sabe o quanto eu aprecio o Zezé di Nha Reinalda. Por acaso, eu já tive a oportunidade de colocar aqui no Djaroz, uma interpretação minha do Teris ê ka Pexi, uma composição do Zezé, que o mesmo interpretou no Álbum Onti y Oji (1988). Ao ouvir alguns temas do Dokumentu, voltei a sentir saudades do Zezé dos Anos 80.

Curiosamente, ele resolveu abraçar o mundo da música electrónica justamente no momento que seu irmão, o Zeca, resolveu fazer o inverso. Penso que terá sido uma opção arriscada, pois já ouvi vários admiradores deste compositor comentar que prefeririam ver o Zezé electroacústico a que estão acostumados. Eu, particularmente, não tenho nada contra essa opção, no entanto, nas faixas que tive oportunidade de apreciar, considero que o Zezé - que tem provas dadas de que sabe cantar, contrariamente ao que muitos dizem injustamente por não gostarem do seu timbre de voz – manifesta um excesso de zelo em ornamentar as melodias e arriscando muito em variações de altura da voz.

Uma outra consideração é sobre as letras. Lembro-me de certa vez ouvir alguém dizer que as composições do Blik Txutxi não são arte, mas sim desabafos. Parece-me, e quero estar errado, que o Zezé tem estado sob um efeito negativo de ressentimentos, o que estampa um carácter sombrio às suas criações mais recentes.

De todo o modo, como reza aquele ditado Guineense, o erro não invalida o esforço desenvolvido. Espero, no entanto, estarmos errados - eu e outros apreciadores das criações do Zezé - nas nossas considerações e mudarmos de opinião ao acostumarmo-nos com o Dokumentu, sucedendo o mesmo que em relação ao Guentis d’Azágua que, conforme o Zezé disse ao Jornal A Semana (edição de 11 de Janeiro último), tivera também uma recepção pouco calorosa nos primeiros tempos do seu lançamento, mas que depois acabou por se tornar no sucesso que todos nós sabemos. Oxalá assim seja.

Dixi Rubera – Vadú

O Dixi Rubera é um álbum ousado, uma vez que há quase um rompimento com a linha de arranjos do anterior trabalho, tendo o Hernâni Almeida, com a mestria que lhe é peculiar, ido buscar ao Rock N’Roll e ao Blues elementos para vernizar as composições terra terra do Vadú, estas sim, sempre naquela linha de resgate de vivências rurais e rurbanas.

Este é também um álbum para ouvir com calma, e ainda bem que é assim, pois não se trata de um descartável, e com prazo de validade. Constitui uma oportunidade entender nesta obra a forma descomplexada como o Hernâni, o Vadú, o Mikau e a expertise sonora do Zunga deram corpo a criações que rompem amarras de tradicionalismos convencionais e abraçam a universalidade (e não globanalização!) do som.

2 comentários:

Anónimo disse...

"O que me chamou particular atenção foi o número bastante significativo de Versões lentas do Funaná, o que a meu ver contribui para mudar um pouco aquela ideia de associar este género musical à dança ou ao puro entretenimento, ou se quiserem, à pura barulhada."

Às vez n' ta da ku mi ta pensa si n' devi comenta ou não!
Ma muto sinceramenti ê engraçado mó qui nos classe di pseudo-eruditos ta papia di nos música..

Parafraseando alguém
"Maltas tem ideia do quê qu'es ta estode pra li ta dzé?!"

da caps

Anónimo disse...

Olá Djoy. Fiquei com ciúmes da larga convivencia que tiveram no outro dia. Confessou-me o E.Lopes o quanto SABI estávam voces. Conquanto aos dois Cds dos Reinaldas estou a preparar um comentário... DEDO NA FERIDA.
TXAU KB